sexta-feira, dezembro 9

Não me Espere na Chaminé


 por Bebete Patife


Décimos terceiros assolando contas bancárias, taxistas fincando bandeiras dois, comerciantes aquecendo as mãos... É o já tão talhado e esculpido fim de ano. Um tempo propício para ler contos de Charles Dickens pertinho da lareira, ou, até mesmo, saudosamente, recordar daqueles ursos que se empapuçavam de refrigerante de Coca.

A manhã que enquadra meu rito de bater letras à máquina é perturbada por uma edição da NEW GOLFE, lançada, sem sorrateirices, pela soleira da porta. Coço a cabeça e apalpo minha vasta cabeleira que mais lembra a juba de um leão da Disney e procuro respostas sobre o destino de tal digna revista, digno, digo, que, fora emocionantes práticas esportivas como lançamento de álcool à boca e a respeitável posição como quarto zagueiro do AUTO ESPORTE ESPORTE CLUBE (Time de futebol lá do Bairro Montese), o sincronismo e glamour do golfe nunca me apeteceram.
Mas, admito que meu nome é assunto nas melhores mesas a reunir imortais ligados à Comunicação Social. De Lee Anderson ao querido amigo vendedor de tripa assada conhecido como Bigode, Bebete Patife recebe láureos, para o bem e para o mal.
Sabedor de toda essa época encantada por renas de nariz vermelho folheio duas - ou seriam dez - páginas da citada revista (NEW GOLFE). O estômago me avisa da mistura de enjôo e fome. Eu, um doutor, um bastião vivo ao jornalismo de bolsos vazios. Sem um puto para contar uma doce história. Ali, passando o olhar sobre tacadas geniais e lendo sobre qual tipo de grama cai melhor no clima seco e amargo advindo com o segundo semestre.
O telefone bate. Do outro lado é J.J. Oliveira a vociferar sem parar. O dono do império Jornalismo Sonso da comunicação alvissareira me pergunta o que eu quero da vida. Segue a transcrição do diálogo:
- Bem, estamos por aí, né...
- Sei...
- Andei muito ocupado nos últimos dias J.J, Estava por Wall Street procurando um canto para fincar os pés...
-Sei... Bebete é o seguinte... Teu único defeito é torcer pelo Bangu. Meu amigo,me escute.Você em nada se parece com este bando de cachaceiros aqui da redação. Cardoso tá uma esponja só, Charles só pensa em pornografia barata e nem quero pensar no resto... Mas, é aquela coisa... Estão aqui do meu lado. Bom ou merda, estão. Quero você meu querido: presente, firme... Como um ser mitológico que abandona o barco por último. Quero você na INTERNETE. É a nova onda, que tal o Jornalismo Sonso? É a sua cara...
- É, né? Estamos por aí, né...
Já viu, Bebete? Em toda mesa que esteja um pudim de cana metido a jornalista agora tem um treco chamado TABLETE, sei lá...Hoje estamos com tudo! É a INTERNETE meu querido...
J.J é um monstro curioso. INTERNETE é um conquistador mongol que há muito pilhou nossa convivência. Só agora ele sentiu o cheiro acre da derrota?
- Conte comigo, J.J! Você ainda guarda aquele borboun na gaveta?
- Deve ter porra, só se esses maníacos daqui não tomaram tudo... Ô raça bandida...
Desligou.
O embrulho no estômago retorna alto. Logo estarei na Internet. Agora, o que me acompanha é o barulho do antiácido que salta do copo com água antes ocupado por geleia mocotó. Em pouco estarei no mundo virtual. Amado Batista, Costinha e o biscoito globo, locais nesse assunto, também.

Sorria meu bem, sorria.